22 de mar. de 2010

O Livro dos Espíritos

1) Que é Deus?
R.: "Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas".

2) Que se deve entender por infinito?
R.: "O que não tem começo nem fim: o desconhecido; tudo o que é desconhecido é infinito".

3) Poder-se-ia dizer que Deus é o infinito?
R.: "Definição incompleta. Pobreza da linguagem humana, insuficiente para definir o que está acima da linguagem dos homens".
Deus é infinito em suas perfeições, mas o infinito é uma abstração. Dizer que Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa pela coisa mesma, é definir uma coisa que não está conhecida por uma outra que não o está mais do que a primeira.

Diferença entre Espiritualismo e Espiritismo

Espiritualismo:

Doutrina filosófica que admite a existência de Deus e da alma. Contrapõe-se ao materialismo, que só admite a matéria.

Segundo o materialismo, no ser humano só haveria o corpo físico. Até as funções superiores, como a memória, o raciocínio, as emoções, os sentimentos poderiam ser reduzidos a simples reações físico-químicas do sistema nervoso, do sangue, das glândulas internas. O Universo seria formado por acaso e seria explicado dentro das leis das ciências exatas (Matemática, Física, Química, Astronomia, etc.). Esta é a tese do materialismo filosófico, que não deve ser confundido com o materialismo pragmático e hedonista adotado por aquele que, embora se diga até mesmo religioso, só quer mesmo é gozar os prazeres da vida terrena, nem que seja em cima da miséria alheia.

Todos os religiosos, como aceitam a alma e Deus, são, por isto mesmo, espiritualistas.

Assim, a pala espiritualista tem significado muito vasto, abrangendo o católico, o protestante, o umbandista, o candomblecista, o israelita ou judeu, o islâmico, etc.


Espiritismo:

Doutrina filosófica, também espiritualista, mas que se diferencia das outras correntes filosóficas por ter características bem definidas, a saber:

a) concepção tríplice do homem: espírito - perispírito - corpo físico;
b) sobrevivência do espírito como individualidade;
c) continuidade da responsabilidade individual;
d) progressividade do espírito dentro do processo evolutivo em todos os níveis da natureza;
e) comunicação mediúnica disciplinada voltada para o esclarecimento e a consolação de encarnados e desencarnados;
f) volta do espírito à matéria (reencarnação) tantas vezes quantas necessárias para alcançar a perfeição relativa a que se destina, não admitindo, no entanto, a metempsicose, ou seja, a volta do espírito no corpo de animal para pagar dívidas, como aceita o Hinduísmo. Conforme o Espiritismo, o espírito não retrocede;
g) ausência total de hierarquia sacerdotal;
h) abnegação na prática do bem, ou seja, não se dobra nada por esta ou aquela atividade espírita;
i) terminologia própria, como por exemplo, perispírito, Lei de Causa e Efeito, médium, Centro Espírita, e nunca como astral, karma, Exu, Orixá, "cavalo", "aparelho", "terreiro", "encosto", vocábulos utilizados por outras religiões e que não tem cabimento no meio espírita;
j) total ausência de culto material (imagens, altares, roupas especiais, oferendas, velas, etc.);
k) na prática espírita não há batismo nem culto ou cerimônia para oficializar o casamento;
l) respeito a todas as demais religiões, embora não incorpore a seu corpo doutrinário os princípios e rituais delas;
m) a moral espírita é a moral cristã: "Fazer ao próximo aquilo que dele se deseje".

8 de mar. de 2010

Interação entre Ciência e Religião - Parte I

Revista Espaço Acadêmico - Ano II - Número 17 - Outubro de 2002

Interações entre Ciência e Religião
Entrevista com Dr. Frank Usarski
Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião na PUC-SP

Entrevista com alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, PUC-SP, Julho de 2002.

Como o senhor define religião?
O que nós chamamos de "religião" tem se manifestado, no decorrer da história e em todas as partes do mundo, em diversificações e diferenças múltiplas. De acordo com essa complexidade não considero adequado pensar em uma definição fechada de religião e opto por um conceito aberto capaz de superar um entendimento pré-teórico que generaliza fenômenos religiosos, sobretudo os de origem cristã, com os quais nós estamos culturalmente acostumados. Isto é somente necessário por que, por exemplo, para chineses, hindus e muçulmanos nem existem sinônimos em suas línguas que correspondam exatamente com o nosso termo religião.

A partir dessas considerações meu conceito de religião contém quatro elementos:

Primeiro, religiões constituem sistemas simbólicos com plausibilidades próprias.

Segundo, do ponto de vista de um indivíduo religioso, a religião caracteriza-se como a afirmação subjetiva da proposta de que existe algo transcendental, algo extra-empírico, algo maior, mais fundamental ou mais poderoso do que a esfera que nos é imediatamente acessível através do intrumentário sensorial humano.

Terceiro, religiões se compõem de várias dimensões: particularmente temos que pensar na dimensão da fé, na dimensão institucional, na dimensão ritualística, na dimensão da experiência religiosa e na dimensão ética.

Quarto, religiões cumprem funções individuais e sociais. Elas dão sentido para a vida, elas alimentam esperanças para o futuro próximo ou remoto, sentido esse que algumas vezes transcende o da vida atual, e com isso tem a potencialidade de compensar sofrimentos imediatos. Religiões podem ter funções políticas, no sentido ou de legitimizar e estabilizar um governo ou de estimular atividades revolucionárias. Além disso, religiões integram socialmente, uma vez que membros de uma comunidade religiosa compartilham a mesma cosmovisão, seguem valores comuns e praticam sua fé em grupos.